quinta-feira, 28 de julho de 2011

Desempenho financeiro vs Responsabilidade sócio-ambiental. Quem ganha?



Já falamos sobre como a Governança Corporativa, inicialmente criada para proteger as finanças de uma empresa, ao gerar transparênciaacaba obrigando as empresas a reverem suas ações e ampliarem o pensamento coletivo e sustentável.
Agora a questão que surge é: ações de Responsabilidade Sócio-Ambiental (RSA) costumam demandar recursos financeiros e humanos, então é provável que apenas empresas gigantes, onde “dinheiro não é problema”, as apliquem, e só para usar em propagandas. Será?

O antagonismo entre finanças e RSA não existe. Segundo diversos estudos são justamente as empresas de melhor desempenho financeiro as que mais fazem pelo ambiente e pela sociedade. É o que concluiu, por exemplo, José Renato Kitahara em sua a Dissertação de Mestrado (FEA/USP – 2007) ao cruzar o Balanço Social do IBASE e as finanças das empresas.
Precisamos então entender como isso é possível. Dois grandes fatores devem ser considerados: (1) os custos e economias das ações de RSA; (2) o reflexo na “imagem” da empresa.

Custos são imediatos, economias são duradouras

É interessante notar como, geralmente, as organizações entendem que a atenção ao meio ambiente e à sociedade gera apenas custos, que, afinal, não colaboram para seu produto final ou para a linha azul no final do balanço.
Na prática o que se nota é uma relação diametralmente oposta. Vamos lembrar de alguns exemplos simples:
  • fomentar o uso de papel reciclado, frente e verso, com margens menores, em impressão “econômica”, reaproveitando as folhas que não precisarem ser arquivadas como papel de rascunho;
  • incentivar o uso do computador para anotações e arquivamento de documentos digitalizados, sem a necessidade de impressão;
  • trocar os copos plásticos descartáveis por canecas duráveis;
  • substituir as descargas comuns por descargas de 2 níveis;
  • instalar torneiras com sensor de movimento;
  • utilizar sensores também para luzes de ambientes de passagem e sem pessoal fixo como corredores e depósitos;
Note que são todas práticas fáceis e que geram custos no primeiro momento. O que é preciso perceber, entretanto, é quantas vezes maior será a economia em médio e longo prazo.
Se pensarmos em elementos maiores, ainda dentro da área de preservação ambiental, podemos imaginar o uso de matérias primas menos poluentes em seu processo de extração/transformação/uso/reciclagem. A mudança poderá exigir pesquisa e até o redesenho da linha de montagem, mas pode resultar em uso de materiais mais baratos, leves e duráveis.
A instalação de tratamento e reaproveitamento de água e resíduos em indústrias, que igualmente provocam investimento inicial, se pagam ao longo do tempo. Painéis solares, turbinas eólicas e outras formas de geração de energia, também gerarão redução de custos no longo prazo. Iluminação incandescente ou por LEDs, idem.

A mesma regra é válida para as ações sociais: oferecer cursos de formação, contratar moradores locais, incentivar a mistura de etnias e credos nos grupos de trabalho, são algumas ações em princípio custosas, mas que gerarão funcionários mais bem treinados e especializados, com maior ânimo, gerando ideias diferentes e criativas.

Ganhos na imagem

Se os custos de ações sócio-ambientalmente responsáveis já costumam se pagar em médio ou longo prazo pelos resultados diretos,é incalculável o reflexo que elas podem gerar na imagem da empresa frente aos clientes, acionistas, fornecedores, instituições governamentais e sociedade em geral.
Seja na hora de realizar uma venda, lançar papéis no mercado, atrelar o nome aos demais componentes da cadeia produtiva, solicitar subsídios ou empréstimos, todos, em menor ou maior escala, estão de olho no que aquela marca representa, positiva ou negativamente.
Como costumo ressaltar, acredito que veicular as ações de sustentabilidade como vantagem de uma empresa é sim positivo.
Se, por exemplo, duas companhias fabricam refrigerantes, mas uma delas tem logística reversa para reciclagem das garrafas, que mal há em divulgar a ação ambientalmente correta? A empresa pode ter iniciado a campanha com o único propósito de economizar com matéria prima, mas se o reflexo é positivo para a Natureza ou para a sociedade, ótimo, todos ganham.
É certo que há empresas com uma ação positiva muito bem divulgada para cada 30 negativas bastante escondidas, por isso cabe aos órgãos governamentais regulamentarem, às ONGs apontarem, à sociedade denunciar.
Sinceramente, prefiro um mundo em que todas as empresas tenham pelo menos uma ação sustentável do que um onde isso é tão raro que serve de diferencial competitivo, mas… ei! isso é o que acontece hoje.

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